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Quem era Filgueira?

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Xosé Fernando Filgueira Valverde (Ponte- Vedra 26-10-1906, 13-11-1996).

Filgueira com Ferrín | Foto: Xurxo Lobato

Ferrín saúda Filgueira | Foto: Xurxo Lobato

Filho do médico José María Filgueira e da granadina Araceli Valverde, afilhado de Enrique Ballina, medrou em ambiente religioso e cultivado. Aluno brilhante, teve Castelão, Ramon Sobrino Buhigas e Antón Losada Diéguez por professores. Assistiu à tertúlia do último, onde se relacionou com Sanchez Cantón, os Iglesias Vilarelle e os Pintos.

No curso 1922-23 começa estudos de Filosofia e Letras, preparatórios de Direito, numa universidade de Santiago em que os novos professores incorporavam métodos e disciplinas europeizantes e na qual alguns moços concebem por primeira vez a cultura e a língua galega como carreira profissional.

Licenciado em Direito em 1927 e por livre em História por Saragoça, deixa a Universidade antes dos maiores conflitos contra a Ditadura. Professor ajudante no Liceu desde 1928, secretário da Junta Provincial de Monumentos e Museu de Ponte Vedra (1929), fundador e ativo membro na seção de Arte e na catalogação do património, diretor da Seção de Literatura do SEG, em 1933 ministrará o I Curso de Literatura galega na Universidade.

Intelectual de ação, discípulo de Armando Cotarelo, protegido de Sanchez Cantón, será fundamental em Labor Galeguista; Secretário adjunto ao Secretario Geral (Alexandre Bóveda) do nascente Partido Galeguista e na Assembleia de Municípios (1931-34). Com o fracasso das eleições de novembro de 1933, substituído por Vitor Casas, a deriva para a Fronte Popular, afasta-o do PG.

Catedrático em 1935, destinado a Barcelona, passará a Melilha e rapidamente a Lugo, onde conhecerá María Teresa Iglesias, a sua esposa. Em novembro doutora-se na Universidade Central com tese dirigida por Cotarelo e começa a Antologia de Poesia, promovida pelo SEG para o centenário de Rosalia de Castro. Em 1936 sob heterónimo J. Acuña publica, Agromar farsa pra rapaces, dentro da produção de materiais escolares que ia abrir o Estatuto.

No início da Guerra Civil, afastado da Fronte Popular, representante de uma Direita anti-marxista e católica, situacionista e bem relacionado, põe-se a serviço dos golpistas. Vogal da Junta de Cultura, articulista de pseudónimo em El Pueblo Gallego, membro da Comisión depuradora de Bibliotecas escolares, com dupla linguagem e erudição transformará-se num “homem de perfil”, num “estraperlista” da cultura.

En 1940 volta ao Liceu de Ponte Vedra e é nomeado Diretor do Museu que tinha fundado. Em janeiro de 1941, em sessão irregular, é investido académico da RAG e publicará 6 canciones de mar “in modo antico”. Em 1942 é presidente da Comissão depuradora do magistério e edita o Cancioneiro Musical de Galiza, a partir das notas de Castro Sampedro.

Liquidados os líderes da resistência; ganha a guerra, purgada a ideia republicana, o franquismo necessitava integrar técnicos, intelectuais e políticos. Após Estalinegrado, acelera a lavagem de imagem. Diversas persoalidades do mundo da cultura e as artes retornam para Espanha, e outros; entre eles Castelão enfermo – mediação Filgueira – são tentados sem êxito para retornar.

Em 1943 será promotor do Instituto Padre Sarmiento (CSIC). Presidente do Tribunal Provincial tutelar de menores, Diretor desde 1946 até 1976, do “modélico” Liceu de Ponte Vedra, em 1945 recebe a Cruz do mérito docente e a Cruz do Mérito naval pela reconstrução no Museu da câmara de Méndez Nuñez na Numância.

Em 1947 trabalha na Lei de Educação, em 1948 é Presidente da editora Bibliófilos gallegos. Em 1951, com apoio dos USA Espanha entra na ONU e Manuel Fraga (ex-aluno dele) ocupa nas décadas a seguir diversos postos políticos. Galiza, a sua mitologia, história, paisagem, folclore e erudição jogariam um importante papel dentro desta construção do franquismo.

Relações, contatos, nepotismo, confusão entre o público e privado; professor ausente e bom padrinho, entre classes magistrais e substitutos soube rodear-se de auxiliares e discípulos. Colaborador no processo de “normalização” da cultura galega que se afasta do exílio e da trajetória prévia, negociador competente, será nomeado alcaide de Ponte Vedra (1959-1968) no período fundamental do “desarrollismo” e da conversão da Galiza em setor extrativo primário.

Procurador, defenderá os interesses da elite galega, e destacará como representante do regime, mesmo na Argentina (1964) e a Bretanha (1966). Em 1969, intervirá nas Cortes, com Antonio Rosón, pela introdução do galego na escola. Membro do Comité para el estudio del Gallego en la Enseñanza, colaborará com Ramon Piñeiro (1970-73) e na criação do Instituto da Língua Galega.

Em 1971, morre Sanchez Canton; em 1972, sendo presidente do tribunal, logrará que Ricardo Carvalho Calero, homem de Galáxia, seja o primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galega na USC.

Aposentado em 1976, em 1979 começará a publicação dos Adrais. Figura fundamental na Transição e no início do processo autonómico, é nomeado em 1982 Conselheiro de Cultura com apoio do “piñeirismo” sendo decisivo na configuração da cultura e da ortografia ILG dentro de uma estratégia “não conflituosa”.29

Fundado o Conselho da Cultura Galega (1983), receberá em 1984 a Medalha Castelao. Em 1986 deixa à direção do Museu, continua a dar palestras, algumas internacionais, publicando e recebendo honras até o seu passamento em 1996.

NOTA: reportagem publicada no Fest-AGAL n.º 6 (julho de 2015)

Ernesto V. Souza

Ernesto V. Souza (Corunha, 1970). Formado como filólogo, especializou-se e publicou algum trabalho sobre história, contexto político e cultural do livro galego das primeiras décadas do século XX. Em 2005 começou a colaborar com o PGL e a vincular-se ao reintegracionismo. Colabora também no Novas da Galiza, é sócio da Associaçom Galega da Língua e membro da Academia Galega da Língua Portuguesa. Trabalha, como bibliotecário na Universidade de Valhadolid (Espanha).

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